terça-feira, 12 de setembro de 2017

Mãe


"Quantas vezes eu penso aqui sozinho/
se eu mereço um amor tão puro e forte./
Se foi Deus, o destino ou se foi sorte./
Afinal, é tão duro esse caminho.../
Ai chega você com seu jeitinho/
me dizendo por onde caminhar/
cada pedra que eu devo desviar/
não descuida de mim por um segundo./
Se eu vivesse mil vidas nesse mundo/
não seria o bastante pra te amar!/

//

Te amar pelas noites mal dormidas/
Por pensar mais em mim do que em você/
Pelas vezes que ouvi você dizer:/
Que a vida era cheia de feridas./
E que é justo nas dores mais doídas/
que a gente aprende a suportar/
que é caindo que se aprende a levantar/
até mesmo do poço mais profundo./
Se eu vivesse mil vidas nesse mundo/
não seria o bastante pra te amar!/

//

Te amar por ser brisa e furacão/
pelas vezes que tirei o seu juízo/
pelas vezes que estive indeciso/
e você me ensinou a direção./
Te amar, mãe, por pura gratidão/
Te amar simplesmente por te amar/
não existem palavras pra explicar/
só se pode sentir, bem lá no fundo./
Se eu vivesse mil vidas nesse mundo/
não seria o bastante pra te amar!/

//

Te amar por estar perto de mim/
Não por ter o seu sangue ou sua cor/
Te amar só por ter o seu amor/
Te amar mais pelos nãos que pelos sims/
Te amar por plantar no meu jardim/
o amor maior que se pode amar/
e mostrar a forma certa de regar/
esse sentimento puro e tão fecundo./
Se eu vivesse mil vidas nesse mundo/
não seria o bastante pra te amar!/

//

Por ser inteira em pedaços/
Por ser lar e por ser lida/
Por ser mil em uma só/
Por ser sempre repartida/
Por ser um pedaço de Deus/
me dando um pedaço de vida."


http://especiaiss3.gshow.globo.com/programas/encontro-com-fatima-bernardes/poesia-com-rapadura/

Depois de algum tempo ...

Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!

https://pensador.uol.com.br/um_dia_voce_aprende_a_sutil_diferenca/

Religiosidade sem religião

Ouvi contar...

Um homem ia cometer suicídio e um mestre estava sentado à beira do rio onde ele ia se jogar. 

O mestre disse: ‘Espere um pouco! Espere! Você vai cometer suicídio?’

O homem disse: ‘Quem é você para me impedir?’

O mestre lhe disse: ‘Eu não estou impedindo você. Na verdade, eu gostaria de vê-lo cometendo suicídio, mas antes de fazê-lo, se você puder doar os seus dois olhos, porque o rei deste país ficou cego e os médicos disseram que se alguém puder doar-lhe os olhos, eles poderão ser transplantados e o rei poderá enxergar novamente. Mas tem que ser olhos de uma pessoa viva, não de um morto. E o que você quiser como recompensa, como prêmio, é só dizer e será seu. Assim, antes de suicidar, por que não fazer um pequeno negócio?’

O homem disse: ‘Quanto ele pagará?’ Ele já havia esquecido o suicídio.

As pessoas estão sempre pensando em negócios.

O mestre disse: ‘O quanto você pedir, é só dizer.’

Ele disse: ‘Eu sou um pobre homem, não posso pedir muito. Dê-me uma sugestão. Eu vou cometer suicídio.’

Então o mestre disse: ‘Pense alto. Que tal, vinte mil rúpias?’

O homem disse: ‘Vinte mil rúpias? Meu Deus, eu nunca pensei que poderia ter vinte mil rúpias.’

Mas o mestre disse: ‘Você ainda pode pensar. Eu posso até mesmo dizer ao rei que você precisa de vinte milhões. Tudo depende de você, pois o rei quer os olhos e paga qualquer preço.’

O homem disse: ‘Vinte milhões? Mas então, por que eu deveria cometer suicídio?’

O mestre disse: ‘Isto é com você. Mas, viver uma vida sem os olhos, mesmo tendo vinte milhões de rúpias, não será muito agradável.’

Já estavam a caminho do palácio, quando o homem começou a dizer ao mestre: ‘Eu estou pensando outra coisa.’

Ele disse: ‘Que outra coisa? Você já subiu o seu preço de novo?’

Ele respondeu: ‘O preço não é a questão. Eu estou pensando: só por dois olhos, vinte milhões? E quanto às duas orelhas, o nariz, os dentes, todo o meu corpo? Qual o preço de todo o meu corpo?’

O mestre disse: ‘Você pode calcular, pois se são vinte milhões por apenas dois olhos...’

O homem disse: ‘Eu não vou vender. Eu vou para a minha casa.’ 

O mestre disse: ‘E quanto ao suicídio?’

Ele disse: ‘Eu pensava que você era um homem religioso. Você é um assassino! Você quer que eu cometa suicídio? Agora que pela primeira vez eu pude reconhecer o que a existência me deu, e eu não tive que pagar nem um tostão. Estes dois olhos que têm visto todo tipo de beleza, estas duas orelhas que têm ouvido todo tipo de música, esta vida que tem experienciado tanta coisa... E eu nada paguei por isto, nem mesmo disse muito obrigado. E o suicídio nada mais é que a última reclamação, a mais feia reclamação contra a existência: ela me deu tanto e eu estou destruindo tudo. Ao invés de estar agradecido, eu estou traindo. Não, eu não posso cometer suicídio e não posso vender os meus olhos, eles não têm preço. Você pode dizer isto ao rei. Nem mesmo por todo o seu reino eu não posso doar os meus olhos, mesmo sendo eu um mendigo.’


Você já percebeu o quanto a existência tem dado a você?

Não, você tem isto como certo, como se você tivesse feito por merecer, como se tivesse sido uma conquista sua.

Você não fez por merecer. Não foi algo que você conquistou. É um presente, é uma bênção, é simplesmente um ato de amor da existência ter-lhe dado tanto. E ela está pronta para lhe dar muito mais. Você é que não está pronto para receber.

A religião o impede de ser religioso. Ela o envia para os mosteiros, para os templos, para as igrejas. Ela ensina você a rezar para um deus hipotético com o qual você nunca encontrou, com o qual ninguém jamais encontrou.

O verdadeiro templo está por toda a sua volta, sob as estrelas, sob a verde folhagem das árvores, ao lado do oceano. O verdadeiro templo está por toda a volta e o verdadeiro deus nada mais é que o fenômeno vivo e consciente dentro de você.

Onde houver vida, onde houver consciência, ali está deus
Religiosidade significa uma gratidão para com a existência


Colcha de Retalhos - Monteiro Lobato


Relanceei um olhar pela sala vazia. A caixeta de costura inda estava sobre a arca no lugar de sempre. Meus olhos pousaram ali, marasmados.
A velha adivinhou-me o pensamento e, levantando-se, tomou-a nas mãos mal firmes. Abriu-a. Tirou de dentro a colcha inacabada, contemplou-a longamente. Depois, com tremuras na voz:
— Dezesseis anos — e não pude acabar a colcha… Ninguém imagina o que é para mim esta prenda. Cada retalho tem sua história e me lembra um vestidinho de Pingo d’Água. Aqui leio a vidinha dela desde que nasceu.
“Este, olhe, foi da primeira camiseta que vestiu… Tão galantinha! Estou a vê-la no meu braço, tentando pegar os óculos com a mãozinha gorda…
“Este azul, de listas, lembra um vestido que a madrinha lhe deu aos três anos. Ela já andava pela casa inteira armando reinações, perseguindo o Romão — que um dia, por sinal, lhe meteu as unhas no rostinho. Chamava-me ‘óó aquina’…
“Este vermelho de rosinhas foi quando completou os cinco anos. Estava com ele por ocasião do tombo na pedra do córrego, donde lhe veio aquela marquinha no queixo, não reparou?
“Este cá, de xadrezinho, foi pelos sete anos, e eu mesma o fiz, e o fiz de saia comprida e paletó de quartinho. Ficou tão engraçada, feita uma mulherzinha!
“Pingo d’Água já sabia temperar um virado, quando usou este aqui, de argolinhas roxas em fundo branco. Digo isto porque foi com ele que entornou uma panela e queimou as mãos.
“Este cor de batata foi quando tinha dez anos e caiu com sarampo, muito malzinha. Os dias e as noites que passei ao pé dela, a contar histórias! Como gostava da Gata Borralheira!…”
A velha enxugou na colcha uma lágrima perdida e calou-se.
— E este? — perguntei para avivá-la, apontando um retalho amarelo.
Pausou um bocado a triste avó, em contemplação.
Depois:
— Este é novo. Já tinha quinze anos quando o vestiu pela primeira vez num mutirão do Labrego. Não gosto dele. Parece que a “desgraça” começa aqui. Ficou um vestido muito assentadinho no corpo, e galante, mas pelas minhas contas foi o culpado do Labreguinho engraçar-se da coitada. Hoje sei disso. Naquele tempo de nada suspeitava.
— Este — disse-lhe eu, fingindo recordar-me — é o que ela vestia quando cá estive.
— Engano seu. Era, quer ver qual? Era este de pintas vermelhas, repare bem.
— É verdade, é verdade! — menti. — Agora me lembro, isso mesmo. E este último?
Após uma pausa dorida, a pobre criatura oscilou a cabeça e balbuciou:
— Este é o da “desgraça”. Foi o derradeiro que fiz. Com ele fugiu… e me matou.
Calou-se, a lacrimejar, trêmula.
Calei-me também, opresso dum infinito apertão de alma.
Que quadro imensamente triste, aquele fim de vida machucado pela mocidade louca!…
E ficamos ambos assim, imóveis, de olhos presos à colcha.
Ela por fim quebrou o silêncio.
— Ia ser o meu presente de noivado. Deus não quis. Será agora a minha mortalha. Já pedi que me enterrassem com ela.
E guardou-a dobradinha na caixa, envolta num suspiro arrancado ao imo do coração.
Um mês depois morria. Vim a saber que lhe não cumpriram a última vontade.
Que importa ao mundo a vontade última duma pobre velhinha da roça?
Pieguices…

1915 - A Colcha de Retalhos - Monteiro Lobato


Revista Prosa Verso e Arte


Colcha de Retalhos - Cora Coralina

Sou feita de retalhos.

Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma.

Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, 
mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.

Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior...

Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, 
uma saudade...

Que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa.

E penso que é assim mesmo que a vida se faz: 
de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também.

E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados...

Haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma.

Portanto, obrigada a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. 

Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias.

Cora Coralina


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