quinta-feira, 4 de maio de 2017

Morte e Vida Severina - Prólogo






O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI


— O meu nome é Severino, 

não tenho outro de pia. 

Como há muitos Severinos, 

que é santo de romaria, 

deram então de me chamar 

Severino de Maria 

como há muitos Severinos 

com mães chamadas Maria, 

fiquei sendo o da Maria 

do finado Zacarias. 


Mais isso ainda diz pouco: 

há muitos na freguesia, 

por causa de um coronel 

que se chamou Zacarias 

e que foi o mais antigo 

senhor desta sesmaria. 


Como então dizer quem falo 

ora a Vossas Senhorias? 

Vejamos: é o Severino 

da Maria do Zacarias, 

lá da serra da Costela, 

limites da Paraíba. 


Mas isso ainda diz pouco: 

se ao menos mais cinco havia 

com nome de Severino 

filhos de tantas Marias 

mulheres de outros tantos, 

já finados, Zacarias, 

vivendo na mesma serra 

magra e ossuda em que eu vivia. 


Somos muitos Severinos 

iguais em tudo na vida: 

na mesma cabeça grande 

que a custo é que se equilibra, 

no mesmo ventre crescido 

sobre as mesmas pernas finas 

e iguais também porque o sangue, 

que usamos tem pouca tinta. 


E se somos Severinos 

iguais em tudo na vida, 

morremos de morte igual, 

mesma morte severina: 

que é a morte de que se morre 

de velhice antes dos trinta, 

de emboscada antes dos vinte 

de fome um pouco por dia 

(de fraqueza e de doença 

é que a morte severina 

ataca em qualquer idade, 

e até gente não nascida). 


Somos muitos Severinos 

iguais em tudo e na sina: 

a de abrandar estas pedras 

suando-se muito em cima, 

a de tentar despertar 

terra sempre mais extinta, 


a de querer arrancar 

alguns roçado da cinza. 

Mas, para que me conheçam 

melhor Vossas Senhorias 

e melhor possam seguir 

a história de minha vida, 

passo a ser o Severino 

que em vossa presença emigra. 







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