quinta-feira, 12 de abril de 2018

Tú me quieres blanca - Revista Aluvião - Alfonsina Stoni (1892-1938) -

Tú me quieres alba,
Me quieres de espumas,
Me quieres de nácar. 
Que sea azucena
Sobre todas, casta. 
De perfume tenue. 
Corola cerrada.
Ni un rayo de luna
Filtrado me haya. 
Ni una margarita
Se diga mi hermana. 
Tú me quieres nívea,
Tú me quieres blanca,
Tú me quieres alba.
Tú que hubiste todas
Las copas a mano,
De frutos y mieles
Los labios morados. 
Tú que en el banquete
Cubierto de pámpanos
Dejaste las carnes
Festejando a Baco. 
Tú que en los jardines
Negros del Engaño
Vestido de rojo
Corriste al Estrago. 
Tú que el esqueleto 
Conservas intacto
No sé todavía
Por cuáles milagros,
Me pretendes blanca 
(Dios te lo perdone)
Me pretendes casta
(Dios te lo perdone)
¡Me pretendes alba!
Huye hacia los bosques;
Vete a la montaña;
Límpiate la boca;
Vive en las cabañas;
Toca con las manos
La tierra mojada;
Alimenta el cuerpo
Con raíz amarga;
Bebe de las rocas;
Duerme sobre escarcha;
Renueva tejidos
Con salitre y agua;
Habla con los pájaros
Y lévate al alba. 
Y cuando las carnes
Te sean tornadas,
Y cuando hayas puesto
En ellas el alma
Que por las alcobas
Se quedó enredada,
Entonces, buen hombre,
Preténdeme blanca,
Preténdeme nívea,
Preténdeme casta.
Tu me queres alva,
Me queres de espuma,
Me queres de nácar.
Que seja açucena
Sobre todas, casta.
De tênue perfume.
Corola cerrada.
Nem um raio de lua
Filtrado me haja.
Nem uma margarida
Se diga minha irmã.
Tu me queres niveal,
Tu me queres branca,
Tu me queres alva.
Tu que tiveste todas 
As copas à mão,
De frutos e méis
Os púrpuros lábios.
Tu que no banquete
Prataria de folhas
Deixaste as carnes 
Festejando a Baco.
Tu que nos jardins
Obscuros do Engano
Vestido de vermelho
Correste aos Destroços.
Tu que o esqueleto
Conservas intacto
Não sei todavia 
Por quais milagres,
Me pretendes branca
(Deus te perdoe)
Me pretendes casta
(Deus te perdoe)
Me pretendes alva!
Foge até os bosques;
Vê a montanha;
Limpa a boca;
Vive nas cabanas;
Toca com as mãos
A terra molhada;
Alimenta o corpo
Com raiz amarga;
Bebe das bicas;
Dorme ao sereno;
Renova tecidos
Com salitre e água;
Fala com os pássaros
E nasce ao amanhecer.
E quando às carnes
Retornares,
E quando colocares 
Nelas a alma
Que pelas alcovas 
Ficara perdida,
Então, bom homem,
Exija-me branca,
Exija-me niveal,
Exija-me casta.

Alfonsina Stoni (1892-1938)


*Sarita Borelli é pós-graduada em Design Editorial pelo Senac, graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, designer, editora responsável pela Editora Gota e idealizadora da Revista Aluvião.

Resultado de imagem para Revista Aluvião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nada realmente se perde nessa existência, O que não se sabe às vezes se sente. O que se sente às vezes não se entende. O que se entende às vezes não se sabe. O que se sabe às vezes não se domina. O conhecimento é porta aberta para outras portas de saberes Obrigado por deixar aqui seu comentário e/ou suas impressões.